O ato de se expressar através da linguagem do desenho, para mim, sempre foi um prazer. Intuitivamente iniciei meus primeiros traçados no papel das agendas novas que minha mãe ganhava no seu emprego. Depois comecei a copiar desenhos de histórias em quadrinhos somente com a preocupação de traçar as formas dos personagens; o desenho até esse momento era somente um hobby.
Há cinco anos ingressei na escola de arte para estudar desenho artístico e dei início a produção do meu portfolio. O meu professor dizia sempre que cada pessoa tem um estilo particular de se comunicar com desenho. Até concluir o curso não havia encontrado algo que trouxesse identidade com a linguagem, ou seja, o meu estilo particular. Dois anos mais tarde, estudando o primeiro ano da faculdade de educação de artes visuais, um professor passou para fazer desenhos de figuras humanas técnicas que me fascinaram. Elas possibilitavam trabalhar o "instinto" artístico, estudar com mais afinco os conceitos de volume, luz/sombra e escala de valores. E foi a partir deste momento que comecei a me dedicar a este estilo e a “encarar” a brincadeira de fazer retratos artísticos como uma profissão.
Em meus estudos com história da arte descobri fatos interessantes relacionados a retratos. Por exemplo, desde o início de sua existência, o ser humano sente desejo de deixar sua marca, sua identidade através de sua própria imagem.
O retrato como um gênero, e dos mais populares das linguagens visuais, é uma marca diferenciada e carimba a imagem de um ser humano desde a Pré-história. Foi popularizado com a Renascença quando passou a ser o grande foco das preocupações da vida e do imaginário dos artistas. A sua lingugagem foi usada para registrar pessoas e famílias nobres, burguesas, e mesmo hoje, no século XXI, ainda é um forte motivo de atração para artistas e admiradores.
O alemão Albert Durer (1471-1528) encantado com sua imagem foi o primeiro artista a se retratar já com 13 anos de idade. Certa vez, fez seu auto-retrato influenciado pela imagem de Jesus Cristo. O pintor Rembrandt (1606-1669) se mostrou pelo menos cem vezes por meio de diversos desenhos e pinturas. Realizou investigações das particularidades do ser humano, que exploraram diversificadas possibilidades de manipular as tintas, pinceladas e traçados no papel a procura de respostas para sua inquietação: “que espécie de pessoa sou eu?”. Caracterizou e idelizou as imagens de seus entes mais queridos de modo a transformá-los em protagonistas de cenas bíblicas e mitológicas. Experimentou novos recursos no tratamento da luz, na arte do claro-escuro e na descrição de volumes e das formas, demonstrando enorme sensibilidade para registrar personalidades. No cubismo analítico, artistas fizeram surgir uma “multidão” de relações entre os elementos que compõem a figura humana através da decomposição da figura e dos rostos humanos de maneira que era impossível remontá-los para estruturar na tela o que foi apreendido.
Descobri outra opção de estudo da figura humana, uma arte de criar imagem pessoal: o visagismo - ele envolve harmonia e estética, revela as qualidades interiores de uma pessoa, de acordo com suas características físicas. Se fundamenta no fato de saber analisar tanto características físicas (formas de rosto, tons de peles e feições) quanto a personalidade, e de saber liberar a criatividade, sem se prender a fórmulas ou regras, e exige um profundo conhecimento da linguagem visual.
Análises do rosto segundo visagismo - imagem extraída de um banner publicitário
Voltando a falar sobre retrato. Ele expressa a imagem externa do ser humano, seus estados emocionais, contextos sócio-históricos. Particularmente, as técnicas usadas para se fazer retratos artísticos me provocam um fascínio inexplicável e despertam minha sensibilidade, além de desenvolver minha inteligência visual.
O rosto humano tem formas muito atraentes, nele existem formas particulares e até certo ponto difíceis de se retratar. Porém isso não deve se tornar empecilho pela busca das formas - sejam realistas, cubistas, expressionistas, e tantas outras classificações e modos ainda não denominados - mas sim, um impulso para se dedicar a arte de ilustrar a figura humana.
Um retrato artístico, o nome de um gênero da linguagem do desenho, que me dedico a fazer para amigos, familiares e pessoas que encomendam esse trabalho para presentear alguém, na minha opinião “diz” muitas coisas além do que podemos compreender. Ele esconde características psicológicas, estado de espírito, e dependendo de quem o observa, poderá mostrar o jeito de ser da pessoa retratada.
A minha experiência com desenho começou com uma brincadeira despropositada e hoje posso dizer que é, no bom sentido da palavra, um trabalho, uma paixão que me diverte e talvez proporcione prazer àqueles que se sentem mais sensibilizados com a linguagem de retratos da figura humana.
Retratar uma pessoa é tentar, através de suas formas visuais, conhecê-la, descobrir o que ela esconde, é um mistério para ser desvendado...
E você? Que brincadeira te diverte?
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